Imagem de Rui Ricardo |
Às vezes, quando o meu pai regressa do trabalho, manda-me ir comprar tabaco à Loja de Cima quando está de bem com a minha mãe. Isto acontecia pouco antes do jantar e eu ficava chateado, pois estava sempre cheio de fome e era capaz de comer um boi. Se os meus pais discutissem na véspera ou de manhã cedo antes de saírem para trabalhar, era ele que ia comprar tabaco e só chegava a casa por volta da meia-noite. Nessas noites, eu e a minha mãe jantávamos sozinhos. Ou melhor, eu jantava, ela mal tocava na comida. Quando regressava, o meu pai não conseguia meter a chave na fechadura à primeira e demorava muito tempo a abrir a porta. O aviso estava dado: a minha mãe entrava no meu quarto, afastava o meu corpo delicadamente (eu fazia sempre de conta que estava a dormir) e enfiava-se na minha cama. Mal o meu pai entrava em casa, ela choramingava alto para o meu pai ouvir e ficar com remorsos. (...)
Texto na íntegra também aqui.
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