sexta-feira, fevereiro 19, 2016

E.R.

Hoje acordei e um vazio abateu-se sobre mim. A vida é boa, pensei. Estou a ficar muito macio e indolente (já está, palavra batida, palavra não recolhida). Peguei no meu Cortina de 75 e fui para o E.R. do Santos Silva. Estacionei-o no lugar das ambulâncias do INEM à bovídeo. Walkers, dragões e argelinos com fitas amarelas e laranjas. Deram-me uma roxa e amarrei-a à cabeça a la Rambo. Entrei por lá dentro a fingir que era acompanhante de um walker. "Onde está o meu velhote, caralho*?" Assim mesmo. Desculpem o vernáculo. L'aventure commence. Esperem aí que já vos conto mais cenas.

*caraças

sexta-feira, fevereiro 12, 2016

sábado, fevereiro 06, 2016

A Loja de Cima

Imagem de Rui Ricardo


























Às vezes, quando o meu pai regressa do trabalho, manda-me ir comprar tabaco à Loja de Cima quando está de bem com a minha mãe. Isto acontecia pouco antes do jantar e eu ficava chateado, pois estava sempre cheio de fome e era capaz de comer um boi. Se os meus pais discutissem na véspera ou de manhã cedo antes de saírem para trabalhar, era ele que ia comprar tabaco e só chegava a casa por volta da meia-noite. Nessas noites, eu e a minha mãe jantávamos sozinhos. Ou melhor, eu jantava, ela mal tocava na comida. Quando regressava, o meu pai não conseguia meter a chave na fechadura à primeira e demorava muito tempo a abrir a porta. O aviso estava dado: a minha mãe entrava no meu quarto, afastava o meu corpo delicadamente (eu fazia sempre de conta que estava a dormir) e enfiava-se na minha cama. Mal o meu pai entrava em casa, ela choramingava alto para o meu pai ouvir e ficar com remorsos. (...)

Texto na íntegra também aqui.