terça-feira, dezembro 29, 2015
segunda-feira, dezembro 21, 2015
Passeio
Encosto a cara a este sol de Inverno, que dia magnífico para dar uma volta pela paróquia. Até os homens da junta trabalhavam com mais afinco e dedicação. Estavam a arranjar o passeio de uma esquina e faziam-no com uma alegria sincera e transbordante, que profissionais. Tal e qual aquelas pinturas murais do Rivera. Que referência inteligente que eu introduzi aqui. Parei na beira do passeio e enquadrei-os com o polegar e o indicador. Que belíssimo quadro daria se eu tivesse jeito para pintar. Um casal adorável de velhinhos passa por mim. Vão os dois de braço dado. São meus vizinhos, velhos conhecidos. Idosos conhecidos, quero eu dizer. A senhora vira-se para mim. Hesitou em cumprimentar-me, desde que pusemos os olhos um num outro que vivemos os dois neste impasse, ninguém ousa dar o primeiro passo para a saudação. Aposto que foi professora de História, tem muita classe, cabelo grisalho, quase azul, casaco e calças creme, uma écharpe de motivos florais, discreta. Muito charme. O sol acaricia-me, que dia de Inverno lindo. Quem me dera ter FB para publicar estas coisas que me vão na alma. Sigo o casal, vão para o mesmo lado que eu vou. O homem não lhe fica atrás, é ele que marca o passo de nós os três. Têmporas brancas, reverentes, usa um fato azul escuro impecável, apenas alguns vestígios de caspa sobre os ombros, nada de grave. Aposto que escreve crónicas para o jornal local. Aposto que gosta de Aquilino. Faz-me lembrar o frei Bento Rodrigues O.P.. Mais uma referência inteligente, que senhor distinto. Vão demasiado devagar, tenho demasiado energia dentro de mim, vejo-me obrigado a ultrapassá-los, sinto-me envergonhado quando o faço, parece que estou a cometer uma infracção. O homem deixa de falar. Já vou uns bons cinco passos adiantado quando ouço um valente e magnífico traque. Sim, já não é a primeira vez. Da última vez que isto aconteceu, eu ia atrás. O velho cronista não tem qualquer tipo de clemência, não deixa prisioneiros.
quarta-feira, dezembro 16, 2015
Eu Tenho um Sonho
Um Conselho de Estado formado por salamandras, tritões, nereidas e pelo Sá Leão. A Maria de Belém de tutu e sapatos de bailarina serve miniaturas de Jägermeister enquanto o Presidente não chega. Um retrato do Bon Scott e outro do Marcelo Caetano em molduras barrocas pendurados em paredes opostas. Marcelo R. Sousa (já presidente) entra de rompante. Vem do seu banho de mar diário, não teve tempo para mudar de roupa, ainda vem com os seus Speedo.
"Perdi alguma coisa?", pergunta enquanto seca as orelhas e arregala os seus belos e enormes olhos azuis.
Eu tenho um sonho.
"Perdi alguma coisa?", pergunta enquanto seca as orelhas e arregala os seus belos e enormes olhos azuis.
Eu tenho um sonho.
sexta-feira, dezembro 04, 2015
quinta-feira, dezembro 03, 2015
Frenologia
George era um rapaz bastante atento e aplicado:
reparou que o formato quadrangular das “regiões” cerebrais de Gall tinha
semelhanças irrefutáveis com a geografia dos estados que constituem os EUA; a
posição e a geometria dessas faculdades, como, por exemplo, a auto-estima, a aprovatividade, a cautela,
a secretividade e a destrutividade pareciam corresponder na perfeição
às áreas e coordenadas latitudinais do Dakota do Norte, Dakota do Sul,
Nebrasca, Kansas e Oklahoma. Teria sido por mero acaso que o infame KKK — que
advogava a destruição dos filhos de Canaã, filho de Cam, filho de Noé — tenha
nascido neste último estado do Sul? O episódio do Génesis é sobejamente
conhecido: Cam encontrou o pai (Noé) embriagado e descoberto, e quando viu a
nudez paterna, foi contar aos seus irmãos, Jafé e Sem, em vez de guardar pudor
e cobrir o pai. Quando recuperou a consciência, Noé amaldiçoou o filho de Cam,
Canaã, referindo-se a ele como o "servo dos servos"[1].
Canaã teve dois filhos, Sidom e Hete, cujas tribos descendentes se espalharam
pelo norte de África e pela Etiópia. Este é um dos episódios bíblicos no qual o
Klux se baseia para legitimar o segregacionismo. Será que a delimitação
territorial dos estados daquele país teve com base os estudos
frenológicos da topografia cerebral?
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