Vou contar-vos o sonho que tive esta noite.
Ia
com a minha mãe numa daquelas velhas camionetas dos Carvalhos, da UTC, daquelas que estão a cair de
podres e que encharcam o ar de fumo
preto, íamos já a meio da viagem, quando resolvi confirmar com o motorista que
era russo se a camioneta ia mesmo para Ecaterimburgo; ele disse que não, que só ia
até Perm. A minha mãe começou a mandar vir comigo, "estás a ver, estás a ver, o que é que eu te disse? Tu nunca me ouves", começou a esbracejar a
dizer que queria sair, ela bem me tinha avisado que tínhamos entrado na
camioneta errada. O motorista travou a fundo, um grupo de hospedeiras de bordo
que ia lá trás foi projectado para a frente, era cada uma melhor do que a outra,
metiam todas a Irina, a ex do R7, no bolso, as lindas hospedeiras ficaram prensadas no
vidro da frente e começaram a disparar insultos para o motorista. A minha mãe e eu estávamos mesmo atrás do lugar do motorista que se virou e olhou
para os meus pulsos; muito calmamente, desapertou a bracelete do meu Rolex, enfiou-o no bolso, voltou-se e piscou-me
o olho pelo retrovisor. Arrancamos. Olhei lá para fora, árvores e mais árvores
que aborreciam de morte a paisagem. A minha mãe já dormia com a boca aberta,
acabei por adormecer também.
Alguém me puxava pelo braço e dava tabefes
meigos para me acordar. Olhei atarantado para o lado. Em vez da minha mãe, vi a minha mulher a sorrir para mim, estávamos outra vez parados. A camioneta estava vazia. O
motorista russo estava lá fora a ver a pressão do pneu careca com a bota
texana. À nossa frente, uma placa branca dizia "Serzedo".