O corredor aproxima-se da linha da meta e resolve abrandar a passada, a vitória está garantida, o rosto alagado estica-se e um sorriso enche-lhe a cara toda. Ergue os braços magrinhos e faz com os dedos um V de vitória para a multidão. Ah, esperem, não há multidão, não há pessoas a assistir à corrida, é uma prova particular num pavilhão fechado ao público, é patrocinada por um daqueles magnatas excêntricos. Um outro corredor, que tudo indica irá receber prata, está a menos de dez segundos, mas não parece conformado, alarga a passada, aumenta o ritmo, abre a bocarra para engolir o máximo de ar possível, vê o adversário a cortar a meta, mas não desiste, continua a correr, a correr, parece um doido a fugir do manicómio, dir-se-ia mesmo que tem fogo no cu. Ultrapassa o "vencedor" que fica a olhar para ele muito espantado com as mãos sobre as pernas, está exausto. O outro mostra-lhe o dedo do meio. Não é possível. Claro, ainda falta fazer mais uma volta! Caramba, que azar, que estupidez. A criança afinal vai nascer com olhos azuis e vai ter o nariz do pai. Escusado será dizer que o falso vencedor ficou cá com umas trompas...