Vinte e quatro
Aqui está o lar, já chegamos.
Os dois vieram em silêncio o caminho todo, Madalena ia já no segundo cigarro, não há nada melhor do que um cigarrinho depois de uma bem dada...Não, não, não, esperem aí. Acho que não foi nada uma bem dada, e aposto que ela também não, quem é que com dezassete, dezoite aninhos dá uma bem dada? O efebo que ia ali ao seu lado deixou de ser virgem naquele fim de tarde, mas a quarentona não sabia, talvez desconfiasse, ela não lhe perguntou, foi tudo muito rápido, há coisa de quinze minutos, ali no banco de trás de um carro, como nos tempos do liceu, só que desta vez foi num daqueles lotes para construção abandonados, parecia um cenário pós-apocalíptico. Estavam resguardados pela muralha de vegetação, pelas plumas invasoras, o outdoor mais à frente prometia vivendas de sonho, o Paraíso das Areias já estava desbotado, as pontas do papel descolavam nos cantos do cartaz. Um carro com um pneu suplente montado faz-me lembrar sempre uma pessoa a usar um sapato dois números mais abaixo do que o outro. Estacionou o Astra ao lado de um contentor cheio de entulho, havia lenços de papel usados semeados aqui e ali, as placas de betão no chão estavam emolduradas por ervas daninhas.
A ela interessava-lhe apenas esquecer o seu último caso, um refinado cabrãozito, colega de profissão, casado também, o gajo tinha língua de mel, quando estavam os dois sozinhos, contorciam-se um no outro, violavam-se mutuamente, violavam todas as leis da física, começavam num canto do quarto do motel e acabam noutro canto a suar por todos os poros do corpo, tinha que apagá-lo da cabeça, de dentro de si, as coisas ainda iam acabar mal. Ali o jovem era um sinal e teria de servir por enquanto, sentiu-lhe o fogo nas entranhas, tal como ela, mas era um fogo descontrolado, inexperiente, quase inocente.
Jura-me que aquilo que aconteceu vai ficar entre nós.
A terrível sensação de dejá vu, outra vez. Deve ser a frase mais usada pelos amantes.(...)