sábado, abril 26, 2014
sexta-feira, abril 25, 2014
quinta-feira, abril 24, 2014
Vinte e quatro
Aqui está o lar, já chegamos.
Os dois vieram em silêncio o caminho todo, Madalena ia já no segundo cigarro, não há nada melhor do que um cigarrinho depois de uma bem dada...Não, não, não, esperem aí. Acho que não foi nada uma bem dada, e aposto que ela também não, quem é que com dezassete, dezoite aninhos dá uma bem dada? O efebo que ia ali ao seu lado deixou de ser virgem naquele fim de tarde, mas a quarentona não sabia, talvez desconfiasse, ela não lhe perguntou, foi tudo muito rápido, há coisa de quinze minutos, ali no banco de trás de um carro, como nos tempos do liceu, só que desta vez foi num daqueles lotes para construção abandonados, parecia um cenário pós-apocalíptico. Estavam resguardados pela muralha de vegetação, pelas plumas invasoras, o outdoor mais à frente prometia vivendas de sonho, o Paraíso das Areias já estava desbotado, as pontas do papel descolavam nos cantos do cartaz. Um carro com um pneu suplente montado faz-me lembrar sempre uma pessoa a usar um sapato dois números mais abaixo do que o outro. Estacionou o Astra ao lado de um contentor cheio de entulho, havia lenços de papel usados semeados aqui e ali, as placas de betão no chão estavam emolduradas por ervas daninhas.
A ela interessava-lhe apenas esquecer o seu último caso, um refinado cabrãozito, colega de profissão, casado também, o gajo tinha língua de mel, quando estavam os dois sozinhos, contorciam-se um no outro, violavam-se mutuamente, violavam todas as leis da física, começavam num canto do quarto do motel e acabam noutro canto a suar por todos os poros do corpo, tinha que apagá-lo da cabeça, de dentro de si, as coisas ainda iam acabar mal. Ali o jovem era um sinal e teria de servir por enquanto, sentiu-lhe o fogo nas entranhas, tal como ela, mas era um fogo descontrolado, inexperiente, quase inocente.
Jura-me que aquilo que aconteceu vai ficar entre nós.
A terrível sensação de dejá vu, outra vez. Deve ser a frase mais usada pelos amantes.(...)
sábado, abril 12, 2014
quarta-feira, abril 09, 2014
quarta-feira, abril 02, 2014
terça-feira, abril 01, 2014
(...) Havia um muro alto com cacos de vidro que protegia o terreno da casa. Contornou-o. Viu uma estrada mais à frente da qual saía um caminho para a entrada que não tinha portão. Entrou. O caminho de acesso tinha marcas de pneus e era bordejado por moitas, petúnias, rododendros e beladonas; o terreiro estava coberto de cascalho e no meio havia um poço de bordas baixas cujo guincho estava debruado por heras. Um Mercedes preto coberto de poeira estava estacionado no lado direito da casa. Aproximou-se do carro, limpou o vidro com a manga do casaco e olhou lá para dentro. Havia apenas uma pasta em cima do banco do passageiro. Depois, pôs-se à frente do capô; não resistiu e enfiou três dedos por entre os raios da famosa insígnia e sentiu um pequeno arrepio de prazer. Voltou para trás. A fachada da casa era esquadrejada por duas janelas estreitas de perfis vermelhos no piso superior e parecia mais modesta vista de perto. Em cima da porta de entrada havia uma inscrição em relevo que dizia ἑταίραι.
Orestes deu dois passos à caranguejo. Não sabia o que fazer, não estava à espera daquilo. As risadas deram lugar a gemidos que vinham do piso de cima e conseguiu distinguir ainda uma voz masculina mais grave, pausada, seguida de estertores abafados como se ele ou ela estivessem em profunda agonia.
Tocou na sineta da entrada cujo badalo tinha uma forma fálica. No vitral da porta figurava uma mulher deitada numa lit de repos em pose convidativa. Orestes sentiu vontade de passar os dedos pelo vitral, mas, nesse momento, a porta abriu-se lentamente. Sacudiu a poeira do casaco e das calças e lá entrou meio a medo. A cor cinza da sua roupa puída contrastava com os fortes tons carmins do papel de parede e do tapete vermelho do vestíbulo. Sentiu-se um pato, não, talvez um peru que fora convidado para uma festa de gala do conde pavão (...)
Orestes deu dois passos à caranguejo. Não sabia o que fazer, não estava à espera daquilo. As risadas deram lugar a gemidos que vinham do piso de cima e conseguiu distinguir ainda uma voz masculina mais grave, pausada, seguida de estertores abafados como se ele ou ela estivessem em profunda agonia.
Tocou na sineta da entrada cujo badalo tinha uma forma fálica. No vitral da porta figurava uma mulher deitada numa lit de repos em pose convidativa. Orestes sentiu vontade de passar os dedos pelo vitral, mas, nesse momento, a porta abriu-se lentamente. Sacudiu a poeira do casaco e das calças e lá entrou meio a medo. A cor cinza da sua roupa puída contrastava com os fortes tons carmins do papel de parede e do tapete vermelho do vestíbulo. Sentiu-se um pato, não, talvez um peru que fora convidado para uma festa de gala do conde pavão (...)
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