sexta-feira, abril 19, 2013

Fechou os olhos. Subitamente, sentiu uma sombra a estender-se sobre si. Um calafrio percorreu-lhe a espinha; não sabia se deveria abrir os olhos para confrontar fosse o que fosse que estava diante de si ou se deveria manter-se quieto, de olhos fechados, como aqueles animais que simulam a morte perante o predador. Quando ergueu a cabeça e abriu os olhos, um pequeno vulto estava parado às suas duas horas. Levantou-se devagar e encarou aquela figura cuja cabeça era retroiluminada pelo pôr-do-sol. Parecia que estava ali há muito tempo: estava absorto a tirar pêlos do peito com uma pinça a qual guardou muito depressa no bolso das calças quando viu Orestes de pé.
Era mais para o baixo do que para o alto, era ruço no cabelo e nas sobrancelhas; a poeira na cara fazia sobressair as rugas de expressão e a cor dos olhos rasgados que mais pareciam duas fendas azuis.