quinta-feira, outubro 18, 2012

Sem nunca olhar para trás, Orestes chegou a um rio que conseguiu atravessar a vau. Mais a menos a meio, viu um homem a cerca de vinte metros do lado da nascente que parecia estar trajado como os antigos hoplitas. Aproximou-se lentamente de Orestes pela margem e perguntou-lhe o que fazia ali.
- Pretendo ir para Abdera. Sou um homem de paz. Apenas quero arranjar trabalho.
O homem amenizou o ar ameaçador, embainhando a espada que era de pau. Tirou o elmo de latão cuja crista parecia ser de pêlo de texugo e baixou o escudo que exibia o desenho de um grande cacho de uvas.
- Sou o guardador deste rio e das vinhas que ali vês. O vinho é o ganha-pão do meu povo. Há muitos salteadores e vagabundos por estas bandas que nos roubam as uvas e nos dão cabo das videiras. Há dias apanhei um doido a violar uma cepa e a apalpar os cachos como se fossem os seios de uma mulher. O desgraçado era roncolho, mas cortei-lhe o único que ainda tinha e plantei-o. O resto serviu de comida aos peixes e é por isso é que eles têm saído gordos do anzol.
Orestes mostrou as mãos, provando assim que não tinha nada e seguiu caminho. Quando já estava longe dali, ouviu uma risada estranha que ecoou pelo vale e que só poderia ser do terrível hoplita das vinhas.