Tinha acabado de chegar ao aeroporto de táxi. Iria gozar as minhas primeiras férias num resort "tudo incluído" e estava ansioso por chegar ao meu destino. Desejava sol e praias de águas verdes-azuladas cristalinas. Desejava ver corpos morenos ensopados com Piz-Buin®. Desejava ser o Gauguin da era smartphone. Assim que empurrei a porta rolante, um homem estava a tentar empurrar do outro lado do vidro separador para poder sair. A cara do homem pareceu-me familiar. Dirige-me para perto do quadro das Partidas. Ainda tinha duas horas e meia antes do voo. Peguei no trólei e fui sentar-me perto da porta rolante. Olhei através da vidraça. O tal homem estava na fila dos táxis. Sim, definitivamente já me cruzei com este homem, mas quando? E onde? Estávamos em pleno Agosto, mas ele segurava firmemente um guarda-chuva e vestia um sobretudo preto que lhe estava dois tamanhos acima. Parecia sondar as pessoas que o rodeavam. As pessoas sentiam-se algo incomodadas e desviavam o olhar, tentando ignorá-lo. De vez em quando, punha-se em bicos de pés para ver melhor o cocuruto dos homens que eram quase todos mais altos do que ele. Deveria estar perto dos cinquenta anos. Estaria à espera de alguém? Provavelmente esteve fora do país durante muito tempo e estava a tentar reconhecer algum familiar que o tinha vindo buscar.
Os meus pensamentos foram interrompidos por um estupendo grito que quase me ensurdeceu. A mãe de tal criatura - que tinha uma dicção que deveria ser estudada por linguistas - recusava dar ao miúdo um chocolate ou lá o que era da máquina de vending. Nova tentativa desesperada do infante. Desta vez eu estava preparado, mas o miúdo deveria ser um mutante, pois até o pessoal da torre de controlo deve ter ouvido o seu grito endemoninhado. Encolhi os ombros à mãe e fui lá para fora. Levei em cheio com uma bofetada de calor que parecia não querer dar tréguas. Olhei na direcção dos táxis. O homem já não estava na fila. Deve ter apanhado um táxi ou alguém veio finalmente buscá-lo. Senti um estranho desalento e levei a mão ao maço de tabaco que tinha no bolso de trás das calças. No momento em que me preparava para acender o cigarro, senti uma pancada na cabeça que me fez deixar cair o cigarro e o isqueiro. Virei-me imediatamente para trás. Era ele! Reconheci-o finalmente.
Os meus pensamentos foram interrompidos por um estupendo grito que quase me ensurdeceu. A mãe de tal criatura - que tinha uma dicção que deveria ser estudada por linguistas - recusava dar ao miúdo um chocolate ou lá o que era da máquina de vending. Nova tentativa desesperada do infante. Desta vez eu estava preparado, mas o miúdo deveria ser um mutante, pois até o pessoal da torre de controlo deve ter ouvido o seu grito endemoninhado. Encolhi os ombros à mãe e fui lá para fora. Levei em cheio com uma bofetada de calor que parecia não querer dar tréguas. Olhei na direcção dos táxis. O homem já não estava na fila. Deve ter apanhado um táxi ou alguém veio finalmente buscá-lo. Senti um estranho desalento e levei a mão ao maço de tabaco que tinha no bolso de trás das calças. No momento em que me preparava para acender o cigarro, senti uma pancada na cabeça que me fez deixar cair o cigarro e o isqueiro. Virei-me imediatamente para trás. Era ele! Reconheci-o finalmente.
O homem que tem o costume de dar com um guarda-chuva na cabeça. Atravessara o Atlântico e escolheu a minha cabeça. Que Deus me proteja e São Sorrentino me valha.