sexta-feira, maio 04, 2012

Debordo

Tenho um amigo psicogeógrafo que morava no centro da cidade. Costumava apregoar aos quatro ventos que nunca se tinha perdido nem mesmo quando foi numa viagem de estudo às ilhas Frígídas. Sentia repulsa por pessoas que usavam bússolas e ficava horrorizado quando via turistas de mapa aberto no meio da calçada. Quando alguém lhe pedia indicações, Debordo respirava fundo (não muito para não incomodar uma pleurite de estimação que tinha há algum tempo) e encaminhava o pobre coitado para os antípodas do local procurado.
Como era um tipo reservado, cansou-se de ser considerado "imperdível" e debandou para o Alentejo profundo. Foi dado como desaparecido há duas semanas e foi visto pela última vez por dois velhotes de Cuba aos quais pintara as unhas de vermelho para usar como referência. Debordo não rima com Alentejo.