sexta-feira, março 02, 2012

Lázaro Fitzgeraldo

Lázaro Fitzgeraldo nasceu da narina direita da sua mãe e sempre que podia ia brincar para a passagem de nível que ficava perto de sua casa. Os pais raramente estavam em casa, gostavam de se instalar na sua casa da cidade para gastar dinheiro velho em festas. A mansão tinha muita criadagem que fazia quase todas as vontades ao rapazote. Certa vez, quis provar carne de pégaso e o mordomo lá teve de falar com o couteiro para ver se caçava um naquela altura do ano. O couteiro chegou de mãos a abanar (tinha lavado as mãos no tanque), e o mordomo teve de dizer ao cozinheiro para preparar um guisado de carne de cavalo e de galinha. Lázaro provou mas amuou, porque sempre achou que a carne de pégaso seria mais saborosa. Há bem pouco tempo, queria que todas as criadas levantassem as saias quando passassem por ele para lhes ver as partes íntimas. A governanta, bem mais velha, passou um valente raspanete a Lázaro por ter dado tal ordem. No fundo, a velha senhora tinha ficado aborrecida por Lázaro não lhe ter feito o pedido a ela também. Enfim, Lázaro estava a crescer. Quando não estava em casa ou na escola para crianças-parasitas, gostava de ir brincar na passagem de nível, porque crescia sempre mais um bocado quando as furiosas locomotivas e as pesadas carruagens passavam por ele, fazendo tremer o chão. Certo dia, porém, quando regressava a casa, Lázaro reparou que o seu pé esquerdo era muito pequeno, quase do tamanho de um pêssego. Lázaro ficou muito infeliz e quis ver-se livre desse pé. Voltou para trás e pôs o pé em cima da linha do comboio. Lázaro esperou, esperou, mas não havia maneira da locomotiva aparecer. O rapaz estava quase a desistir e a ir-se embora, quando reparou ao longe numa rapariga vestida de branco que vinha a saltitar de tábua em tábua no meio da linha.
- Que estás a fazer? - perguntou a rapariga.
- Quero cortar o meu pé esquerdo, é feio e pequeno como um pêssego! - respondeu Lázaro.
- Tens um pé mais pequeno do que outro, o que é que isso importa? Vê os dedos das minhas mãos, não são todos do mesmo tamanho. Já tu tens os dedos todos iguais!
- Sim, tens razão.
Subiram os dois para cima da cancela e não demorou muito até ouvirem o troar de uma locomotiva ao longe.