segunda-feira, julho 18, 2011

Muito

Havia, não há muito tempo à frente, um homem que vivia com os seus num sopézarrão da maior colina da ilha de Réunion de Condo. O homem chamava-se Muito e era muito chamado por todos. Muito tinha muito gorgulho no seu enorme pomar de lapiseiras. Estas árvores crescem em climas quentes queridos e húmidos e dão lápis grandes e muito sucurápidos. As aparas são utilizadas no fabrico de capotas. Muito revezava ao seu santo, S. Jorge Martinica, p´ra que se abençoasse com muita força ao seu lenço de renda e p´ra que o sacudisse ainda com mais força sobre as suas árvores.
Muitas marés vazaram até que a verdade viesse à tona.
Muito tinha escravos ilegais que, todas as noites, aguçavam sem parar o fruto das lapiseiras, tornando os seus bicos afiados e luzidios, queimando grandes obras-primas afastadas para usar como fertilizante. Isto tudo, no maior e mais vil dos segregados. Lá mais para o fim, as condições em que viviam os escravos tornaram-se principescamente insuportáveis e desumanóides.
Os crimes de Muito foram revelados por um excravo que conseguira escapar e cantou lindamente toda a verdade. O excravo trabalha agora numa pequena plantação de cotão, e Muito, esse e não aquele, está a cumprir pena por tempo indeterminado num campo de trabalho forçado de peneiras.