terça-feira, dezembro 16, 2008

Mikado


A memória funciona como as marés. Associei agora a tua prenda à entrevista de trabalho que tive com gestor de hotel japonês que gostava de se vestir de camareira. Um homem de uma cordialidade datada, excessiva, quase incómoda, mesmo para um oriental. Gostava de cirandar pelos longos corredores do hotel com um caniche branco e prestar serviços especiais a todos os executivos ocidentais que usufruíssem do protocolo com multinacionais. Nessa altura, a conduta do gestor já não era segredo para nenhum dos funcionários do hotel. Mas, sabes como são os japoneses, preferem enfiar um sabre na barriga a questionar os seus superiores. Os últimos pisos, os mais luxuosos, estavam sempre ocupados. Um dos serviços consistia em deixar cair um mikado que era uma pequena lembrança do hotel. Quase todos os americanos eram prestáveis e baixavam-se para ajudar o gestor-camareira. Antes que dessem conta, estavam os dois ajoelhados a tentar tirar os pauzinhos com o maior dos cuidados. Assim que o gestor-camareira abandonava o quarto, os clientes pensavam muito nas suas consortes e ligavam para casa para falarem dos filhos e de coisas banais.