quarta-feira, setembro 10, 2008

Os macacos do velho Boris



Para o Rui M. Amaral


Boris conseguira despachar os macacos por um bom preço. Estava cansado das suas insubordinações e fúrias repentinas, e, por vezes, sentia-se ameaçado quando acordava de manhã e via-os a dormir a seu lado.
-
Como é que macacos maniqueístas conseguem escapar de jaulas de aço? - interrogava-se enquanto coçava o cocuruto rapado.
Treinou-os durante seis longos anos para o transportar num magnífico cadeirão de vime, mas os macacos demonstravam cada vez mais sinais de desmazelo e chegaram a ameaçar o búlgaro com tacos de cricket. Onde é que eles foram desenterrar o raio dos tacos?! A verdade é que as coisas tinham mudado drasticamente. Seria talvez porque Boris tinha engordado muito nos últimos anos? Ah mas a vida finalmente sorria ao velho Boris! Havia sempre ilustres admiradores entre a audiência que retribuíam generosamente o seu espectáculo de rua. Mas chegara a hora de se retirar e a macacada estava a dar mais dores de cabeça do que lucro. E assim foi. Boris ainda sentiu um aperto no peito quando os viu partir com a caravana de ciganos, mas foi melhor assim. Com esse dinheiro, Boris iria aproveitar para concretizar o sonho de uma vida: comprar um transístor AM incorporado numa mesinha de cabeceira laqueada. A peça era bastante pesada, uma vez que o tampo era feito de mármore de Carrara. Boris já se imaginava a tactear suavemente o mármore fresco enquanto ouvia os longos discursos do presidente antes de adormecer.