quinta-feira, agosto 21, 2008

O Judeu Abrahim e a Casa de Licores


No remoto cantão de Bons-Ares-do-Coração, havia uma casa de licores e bebidas espirituosas que ganhou fama na época pela venda de iogurtes de cabra-vesga e de manuais de convenções e regras para aspirantes a aristocratas.
As más-línguas (sempre certa concorrência viperina) propagavam que o fundador da loja, o judeu Abrahim, enriquecera por vias travessas: os difamadores juravam a todas as orelhas que queriam ouvir que a loja servia de fachada a um negócio paralelo de troca de títulos nobiliárquicos por generosas quantias de dinheiro por parte dos burgueses das cidades do lago. Abrahim, não podendo ostentar qualquer honra ou título devido à sua circuncidada condição, obrigava os nobres desesperados a executar uma dança bizarra para seu exclusivo e perverso deleite. Os dançarinos tinham de descrever movimentos circulares em torno do judeu que assistia a tudo sentado numa cadeira; se a dançarina fosse condessa ou até marquesa tinha de segurar uma galinha parideira à altura do ventre e empinar bem a cauda do vestido; mas se fosse homem, tinha de equilibrar um capão em cima do chapéu ou da peruca cacheada, enquanto girava e cuspia fogo.
Para se precaver contra prováveis vinganças ou até arrependimentos, o velho judeu pedia melifluamente à nata falida que assinasse um documento que salvaguardasse a sua pessoa e todos os seus familiares.