sexta-feira, abril 11, 2008
Como matar um poeta-oráculo
Se honras pai e mãe e possuis um altar de Freud no teu quarto, ignora esta mensagem - não és senhor de ti nem mereces sê-lo. Se fores filho bastardo de um bastardo e fores acossado por insónias de meia estação, poderás ser um Caçador e deverás proceder do seguinte modo: recorta uma imagem recente do poeta-oráculo e guarda-a na tua carteira durante os dez dias que antecedem o solstício de Inverno. No dia do solstício, convoca um coro de meninos da casta dos Xátrias (estuda o seu histórico médico com minúcia, não poderá haver registos de nados-mortos na família). Coloca uma rola no ombro esquerdo e um corvo com uma moeda de cobre no bico no ombro direito de cada rapaz. Pede-lhes para cantar a ladainha miserável do poeta-oráculo. Compra um espelho oval Luís XIV e faz o juramento solene com uma mão em cima da Bíblia em frente ao espelho. Rasga a fotografia em pedacinhos na presença das tuas noivas. Se executares correctamente estas instruções, o poeta irá morrer na mais pura agonia. Lembra-te que o poeta-oráculo é extremamente ditoso: ainda tem tempo para exalar um soneto imortal - tudo tem o seu preço. Os seus pares caras-de-cü irão choramingar o desaparecimento de tamanho vulto, etc. Envia cartões de felicitações de papel reciclado à família e à sociedade de autores s.a.. Brinda com genebra ao lado das tuas noivas. Espalha grandes borboletas felpudas pelo teu quarto e faz amor nessa noite.