domingo, agosto 19, 2007
Georges Braque
confirmei
agora mesmo:
aos pés da minha cama
jaz um pássaro de campanário
esse mesmo pássaro
nesse instante fatal
não me encontrava
na Praça de S. Marcos
nem em Jaipur
nem no quarto dos meus pais
posso prová-lo
mas só a si
nesse instante fatal,
a morte (um luxo)
senti a lassidão da morte
a fumegar na minha face
soltei um riso idiota
como poderia saber?
cantou os seus lábios
gretados de caju e o
fim de Deus
em noites quebradas por
borrascas diluvianas
amava mulheres
como quase todos
os pássaros
gostava de pendurar-se
em mastros vermelhos
de madeira norueguesa
e de maçãs muito maduras
o finado pássaro
alugava outros
pássaros para voar
(gaivotas não, por princípio)
vibrava com homicídios
involuntários em dias santos
chilreava por todo o bairro
fez-me jurar que
não iria imortalizá-lo
em versos sem casca
improváveis
afinal não passava
de um pássaro
e eu não passo
cartão a pássaros