quarta-feira, setembro 27, 2006
Ícaro
Brueghel
Quando Auden escreveu sobre Ícaro
Olhou para o quadro de Brueghel numa neblina emoldurada de museu.
Não expôs os seus pupilos ao brilho directo da luz,
E não abriu as suas narinas ao odor do sábio,
E não se desnudou pelo toque de um raio que droga cada emoção
Que se derrete e escorre como cera.
E agora, aquele jovem rapaz que cai do céu:
Estive lá, em Creta, e vi com os meus próprios olhos
e como o camponês que continua a lavrar
e como cada barco elegante que apanhei durante a minha viagem
e como a oliveira que plantei
e como o riacho que inundei
e como a rocha que endureceu o meu coração,
não prestei atenção ao seu sofrimento,
eu também falei:
“ninguém pode saber – leia-se compreender –
aquilo que fazemos debaixo do sol".