sexta-feira, julho 28, 2006
sábado, julho 22, 2006
Vaga de calor
Antes de ir de férias, Deus deixa as chaves a Judas, aperta bem as sandálias e lança um último e prolongado suspiro sobre os fiéis e infiéis.
Faz-se à estrada, não olha para trás.
Faz-se à estrada, não olha para trás.
quinta-feira, julho 20, 2006
Cantar de Amigo
À beira do rio fui dançar... Dançando
Me estava entretendo,
Muito a sós comigo,
Ouando na outra margem, como se escondendo
Para que eu não visse que me estava olhando,
Por entre os salgueiros vi o meu amigo.
Vi o meu amigo cujos olhos tristes
Certo se alegravam
De me ver dançar.
Fui largando as roupas que me embaraçavam,
Fui soltando as tranças... Olhos que me vistes,
Doces olhos tristes, não no ireis contar!
Que o amor é lume bem eu sei... que logo
Que vi meu amigo
Por entre os salgueiros ,
Melhor eu dançava, já não só comigo
Toda num quebranto, ao mesmo tempo em fogo,
Melhor eu movia mãos e pés ligeiros.
Que Deus me perdoe, que os seus olhos tristes
Assim ofertava
Minha formosura!
Se não fora o rio que nos separava,
Cruel com nós ambos, olhos que me vistes,
Nem eu me amostrara tão de mim segura.
José Régio, Música Ligeira
Obrigado.
Me estava entretendo,
Muito a sós comigo,
Ouando na outra margem, como se escondendo
Para que eu não visse que me estava olhando,
Por entre os salgueiros vi o meu amigo.
Vi o meu amigo cujos olhos tristes
Certo se alegravam
De me ver dançar.
Fui largando as roupas que me embaraçavam,
Fui soltando as tranças... Olhos que me vistes,
Doces olhos tristes, não no ireis contar!
Que o amor é lume bem eu sei... que logo
Que vi meu amigo
Por entre os salgueiros ,
Melhor eu dançava, já não só comigo
Toda num quebranto, ao mesmo tempo em fogo,
Melhor eu movia mãos e pés ligeiros.
Que Deus me perdoe, que os seus olhos tristes
Assim ofertava
Minha formosura!
Se não fora o rio que nos separava,
Cruel com nós ambos, olhos que me vistes,
Nem eu me amostrara tão de mim segura.
José Régio, Música Ligeira
Obrigado.
segunda-feira, julho 17, 2006
As Musas Cegas
(...)
Toda a juventude é vingativa.
Deita-se, adormece, sonha alto as coisas da loucura.
Um dia acorda com toda a ciência, e canta
ou o mês antigo dos mitos, ou a cor que sobe
pelos frutos,
ou a lenta iluminação da morte como espírito
nas paisagens de uma inspiração.
A mulher pega nessa pedra tão jovem,
e atira-a para o espaço.
Sou amado. - E é uma pedra celeste.
Há gente assim, tão pura. Recolhe-se com a candeia
de uma pessoa. Pensa, esgota-se, nutre-se
desse quente silêncio.
Há gente que se apossa da loucura, e morre, e vive.
Depois levanta-se com os olhos imensos
e incendeia as casas, grita abertamente as giestas,
aniquila o mundo com o seu silêncio apaixonado.
Amam-me; multiplicam-me.
Só assim eu sou eterno.
Herberto Helder
Toda a juventude é vingativa.
Deita-se, adormece, sonha alto as coisas da loucura.
Um dia acorda com toda a ciência, e canta
ou o mês antigo dos mitos, ou a cor que sobe
pelos frutos,
ou a lenta iluminação da morte como espírito
nas paisagens de uma inspiração.
A mulher pega nessa pedra tão jovem,
e atira-a para o espaço.
Sou amado. - E é uma pedra celeste.
Há gente assim, tão pura. Recolhe-se com a candeia
de uma pessoa. Pensa, esgota-se, nutre-se
desse quente silêncio.
Há gente que se apossa da loucura, e morre, e vive.
Depois levanta-se com os olhos imensos
e incendeia as casas, grita abertamente as giestas,
aniquila o mundo com o seu silêncio apaixonado.
Amam-me; multiplicam-me.
Só assim eu sou eterno.
Herberto Helder
quarta-feira, julho 12, 2006
Eu
terça-feira, julho 11, 2006
Síndrome do Emigrante
Tenho saudades do meu país.
Daquele Portugal antes da C.E.E., das bigodaças fartas dos homens e do rouge excessivo das mulheres. Das botas de borracha coloridas das crianças e dos muitos cães vadios que enchiam as cidades.
(alguém pediu-me um poema, lamento)
Daquele Portugal antes da C.E.E., das bigodaças fartas dos homens e do rouge excessivo das mulheres. Das botas de borracha coloridas das crianças e dos muitos cães vadios que enchiam as cidades.
(alguém pediu-me um poema, lamento)
domingo, julho 09, 2006
Morte
Há dias em que não consigo deixar de pensar no poder da morte e na consequente mudança de hábitos que implica.
Ajuda-me a manter-me vivo.
Ajuda-me a manter-me vivo.
quinta-feira, julho 06, 2006
Águas Furtadas
A "aguasfurtadas", revista de literatura, música e artes visuais acabade lançar o seu número nove. Com textos de Inês Lourenço, Tiago Gomes,Rui Lage, Pedro Ribeiro, Marcelo Rizzi, Adrienne Rich, Virginia Woolf, Filipe Guerra, entre muitos outros, para além de trabalhos inéditos de vários fotógrafos e artistas plásticos, e ainda de um CD com obras de Alexandre Delgado, Ruben Andrade, Dimitris Andrikopoulos e do grupo de jazz Espécie de Trio. Este número nove será apresentado no próximo dia 6 de Julho, a partir das 21h30, nos Espaços JUP (Rua Miguel Bombarda, 187), no Porto, com a realização de um espectáculo que incluirá as actuações dos projectos Mana Calórica e Las Tequillas. Haverá ainda outros motivos de interesse que estão a ser meticulosamente preparados pela equipa de coordenação da revista.
Entretanto, assista ao primeiro vídeo de promoção deste número nove aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=MZ4rtoXgMfw
Entretanto, assista ao primeiro vídeo de promoção deste número nove aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=MZ4rtoXgMfw
terça-feira, julho 04, 2006
Ordem
É frequente dar por mim a fechar a torneira dos poucos bons conselheiros que existem na minha cabeça, cortando-lhes precisamente as suas cabeças, pouco antes de implorem por misericórdia.
Tenho de manter a ordem, mortificar o jejum moral e estar atento às fraquezas dos outros para importar os seus infernos e colá-los como lembretes nas minhas mãos.
Sou o actor e o espectador mais fiel e mais descontente de mim mesmo.
Tenho de manter a ordem, mortificar o jejum moral e estar atento às fraquezas dos outros para importar os seus infernos e colá-los como lembretes nas minhas mãos.
Sou o actor e o espectador mais fiel e mais descontente de mim mesmo.
domingo, julho 02, 2006
Boa tarde
Há um gato ordinário que me corteja a partir da sua marquise do velho prédio da frente. No telhado, as crias das gaivotas caminham desajeitadas, espalhando penas pelo ar enquanto soltam pequenos guinchos.
Dois namorados despedem-se demoradamente, cá em baixo, na rua. Afastam-se por fim, ela olha para trás, mas ele segue em frente.
Na minha pequena varanda, apanho os últimos raios de sol desta boa tarde e sorrio sem motivo.
Aguardo visitas. A limpeza da casa pode ficar para depois.
Dois namorados despedem-se demoradamente, cá em baixo, na rua. Afastam-se por fim, ela olha para trás, mas ele segue em frente.
Na minha pequena varanda, apanho os últimos raios de sol desta boa tarde e sorrio sem motivo.
Aguardo visitas. A limpeza da casa pode ficar para depois.
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