Ontem à noite, depois de jantar em casa dos meus progenitores - que me proibiram terminantemente de comer ração seca para cães misturada com leite do dia - fui vítima de um ataque cobarde e miserável.
Enquanto caminhava em direcção ao meu bólide para recolher à minha toca, reparei, ao longe, na presença de vários gatos pretos em cima do carro.
Por mais tempo que viva, nunca hei-de esquecer aquele olhar de ódio que aqueles animais lançaram sobre mim, pouco antes da investida que se seguiu. Um dos felinos, que julgo tratar-se do gato Alfa (não sei se é assim que se designa o chefe dos felinos) abriu as goelas e gritou:
- Allah Akbar! Inch'Allah!!
De repente, saltaram vários gatos pretos na minha direcção, sacaram os seus sabres e tentaram atingir-me com vários golpes. Consegui abrir a custo a porta do carro, arranquei prego a fundo e creio que atrolopei um ou dois durante a fuga. Em seguida, ouvi vários estrondos que pareciam ter rebentado mesmo atrás de mim. Olhei pelo retrovisor e vi que os gatos eram, nada mais, nada menos, de que mártires suicídas, mas, para minha sorte, o detonador ou a bomba relógio deveriam estar regulados pela hora de Verão.
Mais tarde, ao tratar das feridas com vodka ucraniana - muito má para ser ingerida e apreciada - acalmei-me e consegui fazer a reconstituição dos factos: tenho o péssimo hábito de deixar revistas e livros espalhados na "chapeleira" do meu carro. Um dos livros era o último de Paulo Coelho, juntamente com uma revista que ilustrava os cartoons polémicos sobre o profeta Maomé.