terça-feira, outubro 23, 2018

Armistício

Hoje sonhei com o Marechal Foch.
Estava na sala de espera de uma destas modernas clínicas dentárias. Foch chegou, tirou as medidas à sala e olhou para mim durante uns bons dois minutos. Depois, sentou-se a meu lado (a sala estava praticamente vazia) e perguntou-me que horas eram.
- São três e vinte, meu General, disse-lhe.
Foch ainda não tinha sido distinguido com o posto de marechal.
- Está na hora, meu rapaz.

Sim, o momento chegou. Estou pronto para assinar o Armistício com a minha mente.

sábado, outubro 13, 2018

terça-feira, outubro 09, 2018

Colóquio

Acho que foi o G. Grass que disse "eu não sou fiel mas sou dedicado".
Pois bem, eu sou dedicado aos meus humores, aos meus fígados. Durante algum tempo, abafava-os numa bacia escura, metálica, mas essa bacia começou a transbordar. Verpiss dich Freud! Arschloch! 
De qualquer maneira, quero pensar que respeito agora esse lastro de "muddy waters" e ponho-o ao sol a corar. Não, já não barro esse pastoso lastro cinzento com geleia de optimismo ou condescendência para depois se transformar numa coisa intragável e falsa. O pequeno budinha risonho (que não é o verdadeiro Buda , mas não me apetece explicar isso agora) ri-se ainda com mais vontade, mesmo à minha frente.

Outra coisa. O Marx (vou dizê-lo com todos os dentes e próteses, com quase toda a certeza do mundo) e o Lenine eram meninos de coro quando comparados com o Lutero. Pensem.



segunda-feira, outubro 01, 2018

Restos de verão

Na esplanada "Escobar" todos os clientes são especiais.
Mãe e filha estão sentadas duas mesas à minha frente. A filha tenta explicar como funciona o novo smartphone da mãe. Começa todas as explicações com um "Oh mãe" impaciente, mas a mãe tolera-a. A filha tem pernas macias, robustas de ginásio, mas não muito trabalhadas, um celulite residual baila perto das nádegas quando cruza e descruza as pernas. Viajo para longe.
A mãe cinquentona desafia-me com um olhar seco e verde. Não querendo ser vulgar, vê-se que a senhora ainda tem gasolina no depósito para gastar. Não sei se me reprova ou se tem ciúmes. O meu ego incha e vai molhar os pezinhos no mar.
A água está gelada, chega o namorado da filha. Cumprimenta-as. A mãe olha agora para mim com algum gozo enquanto parece desfrutar daquele falso ménage.
Peço mais um fino e um pratinho de tremoços. Finjo ignorá-las e volto ao que não estava a fazer.

Despedida do verão