Há coisa de duas, três semanas, um dos meus vizinhos mudou-se para a varanda. Faz lá tudo. Dorme, come, faz as necessidades. Tudo. É um pouco inaudito, eu sei, mas no meu prédio estão sempre a acontecer coisas do género. Bom, quase tudo, não faz amor com a mulher na varanda, ainda não. Transeuntes aglomeram-se na rua para apreciar o vizinho abalconado como se fosse uma atracção circense. O caso bizarro já foi discutido na última reunião extra de condóminos. Curiosamente, criaram-se duas facções entre sexos. Os homens simpatizaram com o vizinho, as mulheres reprovaram o seu comportamento em uníssono agudo. Depois começaram a falar de capoto e telas e a coisa ficou menos interessante.
Encontrei a mulher desse vizinho no elevador - é sempre no elevador - que me confessou toda a verdade. A senhora sempre simpatizou comigo, talvez porque tenho cara de padre confessor.
"Ele está a combater o Medo. O medo de alturas, o impulso de se lançar da varanda. O meu marido é muito radical. Confronto, confronto. Não vai sair de lá enquanto não conseguir vencer esse medo."
"Poderia fazer hipnoterapia", aconselhei.
"Ah. Ele também tem medo de hipnoterapeutas".
"Nesse caso, está no bom caminho."
"Acha que sim?"
"Eu acho que sim, minha senhora."
Encontrei a mulher desse vizinho no elevador - é sempre no elevador - que me confessou toda a verdade. A senhora sempre simpatizou comigo, talvez porque tenho cara de padre confessor.
"Ele está a combater o Medo. O medo de alturas, o impulso de se lançar da varanda. O meu marido é muito radical. Confronto, confronto. Não vai sair de lá enquanto não conseguir vencer esse medo."
"Poderia fazer hipnoterapia", aconselhei.
"Ah. Ele também tem medo de hipnoterapeutas".
"Nesse caso, está no bom caminho."
"Acha que sim?"
"Eu acho que sim, minha senhora."