quinta-feira, novembro 27, 2014

O desenho

Desde que começou o quarto minguante que um desenho bizarro tem sido projectado no quintal pouco cuidado da minha cabeça. Eu sei de onde é que isto vem. Foi durante a minha estadia em Hakone, Japão, há cinco meses. Fiquei na altura um pouco surpreendido com o pequeno acto de vandalismo, pouco habitual entre os japoneses. Vi um desenho feito com um objecto cortante, uma faca ou um canivete, na porta da casa de banho de uma estância termal bastante popular entre a população sénior japonesa. Era um polvo sem olhos, cujos tentáculos disparavam espermatezóides gigantes (quase do tamanho do próprio polvo) que, por sua vez, gritavam em uníssono (balão aos ziguezagues) "!!!MAGICO BEANOS!!", assim mesmo, numa variante de inglês ajaponesado, antes de entrarem numa coisa gravada no canto superior da porta que tanto poderia representar uma vulva ou um lírio - creio que a leitura daquela parte de desenho depende sempre de quem a vê.

terça-feira, novembro 25, 2014

Juro que não tem nada a ver


Primeira Parte - Sócrates apresenta a sua defesa

I. O que vós, cidadãos atenienses, haveis sentido, com o manejo dos meus acusadores, não sei; certo é que eu, devido a eles, quase me esquecia de mim mesmo, tão persuasivamente falavam. Contudo, não disseram, eu o afirmo, nada de verdadeiro. Mas, entre as muitas mentiras que divulgaram, uma, acima de todas, eu admiro: aquela pela qual disseram que deveis ter cuidado para não serdes enganados por mim, como homem hábil no falar. (...)

"Apologia de Sócrates" de Platão

quinta-feira, novembro 20, 2014

sexta-feira, novembro 14, 2014

Louro quer graveto

Quando tudo acabar, isto é, quando a nação colapsar e a língua morrer - seja aqui, nesta marquise virada para o mar, seja num país minúsculo e branqueado, entalado entre a França e a Alemanha - irão restar apenas papagaios que irão reproduzir a nossa língua para linguistas e outros interessados.

quinta-feira, novembro 13, 2014

Não sabia que o Johnny Cash tinha ressuscitado.

segunda-feira, novembro 10, 2014

Tenho de cortar as meias-de-leite



Jarry começava o dia a consumir dois litros de vinho branco e, de seguida, três absintos entre as dez horas e o meio-dia; na hora de almoço, regava o peixe ou o bife com tinto e branco alternando com mais absintos. Na parte da tarde, algumas chávenas de café misturadas com conhaque ou outras espirituosas cujos nomes já não me lembro; depois, ao jantar - ao qual se seguia, naturalmente, mais aperitivos - ainda conseguia beber, pelo menos, duas garrafas de qualquer vintage, bom ou mau.
Agora, eu nunca o vi bêbado.

Alfred Jarry: A Pataphysical Life, Alastair Brotchi

quinta-feira, novembro 06, 2014

A morte difícil



Crevel: "Vá, corta-me."
Faca: "Não. És demasiado bonito, demasiado duro para te cortar. És o pior pesadelo de uma faca."
Crevel: "Não me deixas alternativas. Vou apanhar o primeiro barco para a ilha de Jerséi, há muitas facas lá à procura de trabalho."
Faca: "Estás a dizer-me adeus?"
Crevel vira-lhe as costas, a Faca hesita, mas não faz nada. Crevel bate com violência a porta.
Faca fica imóvel durante uma hora a olhar para a porta. Depois, espeta a cabeça contra um coração de boi que estava em cima da mesa da cozinha.

Os Sofrimentos do Jovem Werther



Goethe: Já não sonho mais com nuvens. Faz hoje uma semana que só sonho com mulheres. Acordo sempre muito cansado. Mas a partir de agora só quero sonhar com mulheres.
Werther: E quem são essas mulheres, Johann?
Goethe: Todas as mulheres que amei nesta vida, desejo sonhar com todas elas, de A a Z.
Werther: (pequena pausa, hesitante)
Goethe: Não te inibas, podes perguntar-me tudo, Werther.
Werther: São assim tantas?
Goethe: Creio que sim, ainda só vou na letra B.

terça-feira, novembro 04, 2014

Dats rite y'all

Às vezes, sou tão old school que até meto nojo aos cães. Mas depois isso passa-me.