quinta-feira, agosto 27, 2009

Gerard



Gerard pousou a corneta sobre a escrivaninha, abriu a gaveta e pegou numa folha amachucada. A folha dizia para Gerard pedir educadamente à senhora nua que estava estendida no sofá do gabinete para se retirar. No verso da folha, dizia ainda para tirar da segunda gaveta um revólver, uma caneta e duas folhas. Dizia ainda para queimar a folha antes de abrir a gaveta seguinte. Gerard queimou a folha no cinzeiro e a mulher saiu. Abriu a segunda gaveta e retirou os objectos. Uma das folhas estava em branco e outra tinha uma mancha de texto. Dizia para carregar o revólver com as balas que estavam numa terceira gaveta da escrivaninha e para escrever o seguinte texto na folha que estava em branco:

"Caro _____

PF peça à senhora presente na sala para se retirar. Vire a folha e continue a ler.

(...)

Abra a segunda gaveta da escrivaninha; retire o revólver, a caneta e duas folhas; leia com atenção o que está escrito na folha escrita."

Dizia também para colocar a folha que acabara de redigir na primeira gaveta. Gerard abriu a terceira gaveta, retirou as balas e carregou o revólver. Gerard reparou que havia ainda uma factura da luz no fundo da gaveta. Gerard levou as mãos à cabeça e saiu disparado pela porta fora com o revólver na mão. Gerard era um homem terrivelmente distraído. Quem acha que percebe alguma coisa de literatura, sabe como esta história irá acabar.

quinta-feira, agosto 20, 2009

O homem-cacto

- O senhor disse mesmo aquilo que eu acabei de ouvir? - perguntou o guarda.
- Disse sim. Faça o que lhe compete. Prenda-me. - respondeu o homem-cacto.
O homem-cacto trazia uma mochila e aguardava do lado de fora da portaria. Olhava à sua volta, fascinado. Ninguém estava no átrio do presídio aquela hora. Fechou os olhos e inspirou fundo. Sorriu. O guarda prisional media-o de cima a baixo enquanto marcava a extensão do director. Algumas horas antes, tinha ido à igreja mais próxima da sua casa para se confessar ao pároco. O homem-cacto vivia sozinho na rua da Escola Politécnica, no nº 89, não era de esquerda nem de direita e desdenhava o centro. Gostava de touradas de morte, embora não suportasse ver sangue. Ia almoçar com o seu velho pai uma vez por semana, a sua mãe morrera no parto. Era apreciador de cognac e não era muito bom com contas. Aliás, agora que falo nisso, começou a desenvolver um ódio de estimação pelo merceeiro da rua quando se apercebeu tardiamente que este o andava a enganar. E depois foi o senhor do banco, o seu amigo de infância, o seu sobrinho que tinha quase a sua idade, o IRS, o homem da bomba. E foi assim que tudo começou. Os jornais viriam a chamá-lo de homem-cacto, pois para além de ser intocável, raptava as suas vítimas e deixava-as morrer de sede no meio da tórrida planície. Muitas pessoas enganaram o homem-cacto desde que este ganhou o seu primeiro ordenado. Até que chegou a uma altura em que não era necessário vingar-se de mais ninguém. A sua última vítima, o garçon arrogante que o enganara anos a fio no troco, ainda estava a agoniar com a língua de fora e iria morrer em poucas horas.
Ali na prisão, não havia muitas contas a fazer.

sexta-feira, agosto 07, 2009

A marca do camaleão

Deixaram o falecido em câmara ardente, e as portas da capela mortuária ficaram escancaradas durante toda a noite. De manhã, quando entrou o irmão mais novo do morto, o morto continuava morto, mas alguém tinha roubado o seu fato branco feito à medida! E a terrível marca da dentada do camaleão, ali nas costelas, à vista de todos. A família escandalizada tornou-o a vestir. Por volta das quatro, entra um senhor muito bem apessoado com um fato branco e senta-se à frente da viúva. O senhor trazia uma lâmina com cabo de madrepérola no bolso e não tirava os olhos da viúva. A viúva pareceu surpreendida, mas ninguém ousou abriu a boca.

quinta-feira, agosto 06, 2009

FNM

Reunited & Poker Face

O resto já é sobejamente conhecido. Se não é deveria ser.
Lady Gaga

segunda-feira, agosto 03, 2009

O prosador venenoso

Uma vez, em plena 5ª Avenida, um amigo meu que se encontrava em negócios presenciou um executivo a ser mordido na nuca por um prosador venenoso. O jovem executivo desfaleceu de imediato, morrendo poucos minutos depois. Ninguém pode fazer nada.