domingo, fevereiro 22, 2009
Temos um problema de meio-fundo
A nossa nacionalísisma crise de cultura tornou-se, em poucas semanas, numa cultura de crise. Os mais resilientes inspiram-na sem querer. Estão lançados os dados, ou talvez os dadás, para conceber um novo ismo. Lembram-se quando foi a última vez que viram/apalparam ursos pardos no debate quinzenal da nossa assembleia? Pensei inicialmente em lémures com espelhos, mas o bom deus aconselhou-me a ficar pelos ursos.
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
S. Rimbaud assim me aconselhou
em aparição num canal codificado
em jeito de homenagem póstuma à Poesia
deixarei de escrever poemas em breve
vou gerar emprego
abrir uma firma de próteses dentárias
no Principado de Liechtenstein,
talvez uma clínica de fertilidade,
no fundo vai tudo
dar ao mesmo
à minha língua,
ao teu castor.
quinta-feira, fevereiro 12, 2009
terça-feira, fevereiro 10, 2009
Personagens
O mais galhofeiro dos meus personagens estava a lambuzar-se com um favo de mel, quando, de um jeito arrebatado, atirou-o pela janela fora, ordenando de imediato aos restantes que se levantassem das cadeiras de vime. Era claramente o líder deste escol prometedor. Fizeram-no contrafeitos, naturalmente; o mais velho, antigo campeão de tiro às pombinhas, soltou um gás e pôs a língua de fora. A seu lado estava a senhorita Gigi que me estendeu a mão azulada, enquanto puxava com a esquerda o decote de crinolina que insinuava o seio. A criancinha que puxava o vestido de Gigi fez-me notar que eu tinha lapas cravadas nas costas e avisou-me que as lapas só desgrudavam com espumante reles. Que criança tão esperta! Vamos lá, continuemos. Sarabando, meu camarada de armas, branco e maciço como um tampo de mármore. Entregou-me solenemente o seu livre-trânsito para depois desatar às gargalhadas que emprastaram o ar. Que tipo tão maravilhosamente inconsequente! E que duas palavras tão grandes! Comecei também a rir, a rir, a rir, até ter convulsões, como se tivesse perdido o emprego. E não é que perdi mesmo?! Já estou a rir há quarenta e oito horas e só vou parar quando me derem um trabalho a sério. Um Domador de Feras que regressa triunfante à arena após um longo e amargurado interregno! Um Escanção de reis e presidentes de transição (mas cheios de bom gosto!), um Assessor togado de um ex-magistrado justiceiro!
quarta-feira, fevereiro 04, 2009
Aviso
Silenciem PF os telemóveis no meu blogue.
Interdita a entrada a coelhos e a anões réprobos.
Obrigado.
Interdita a entrada a coelhos e a anões réprobos.
Obrigado.
domingo, fevereiro 01, 2009
Job, o barman
- Tens a certeza querido? - insistiu, como se ao fazê-lo pudesse eliminar o sentimento de culpa e assim ficar mais aliviada.
- Oh! Então?! Está mais do que decidido. Tantas despesas com esta crise! Vá, vamos dormir, amanhã será outro dia.
E com esta verdade scarlettiana ainda no ar, lá se foram deitar. Luzes apagadas. Ele ainda libertou um longo suspiro enquanto olhava para a penumbra do quarto. De súbito, virou-se para o lado da janela com alguma brusquidão, tapou a cabeça com o edredão e adormeceu.
Dois dias depois, Henrique chega a casa, atira o sobretudo para cima do sofá e ajeita-se na sua poltrona. O comando da televisão?
- Já chegaste querido? - pergunta Margarida enquanto rala umas cenouras na cozinha.
- Meu Deus, esta sala é um gelo! - responde-lhe inconsolado.
Levanta-se, puxa o cesto de lenha debaixo do armário e começa a acender a lareira. Pouco depois, sacode as mãos e regressa feliz ao seu trono.
- Ó Job, prepara-me aí um martinizi...
De repente, dá-se conta e cai em si. Num tenebroso e fulminante si maior. Desencosta-se e olha para o barzinho de canto. Job não estava lá. Tinham dispensado os seus serviços na noite anterior. Nove anos de casa.
Lá fora, o camião do lixo recolhia ruidosamente o lixo dos contentores daquela rua sem saída.
- Oh! Então?! Está mais do que decidido. Tantas despesas com esta crise! Vá, vamos dormir, amanhã será outro dia.
E com esta verdade scarlettiana ainda no ar, lá se foram deitar. Luzes apagadas. Ele ainda libertou um longo suspiro enquanto olhava para a penumbra do quarto. De súbito, virou-se para o lado da janela com alguma brusquidão, tapou a cabeça com o edredão e adormeceu.
Dois dias depois, Henrique chega a casa, atira o sobretudo para cima do sofá e ajeita-se na sua poltrona. O comando da televisão?
- Já chegaste querido? - pergunta Margarida enquanto rala umas cenouras na cozinha.
- Meu Deus, esta sala é um gelo! - responde-lhe inconsolado.
Levanta-se, puxa o cesto de lenha debaixo do armário e começa a acender a lareira. Pouco depois, sacode as mãos e regressa feliz ao seu trono.
- Ó Job, prepara-me aí um martinizi...
De repente, dá-se conta e cai em si. Num tenebroso e fulminante si maior. Desencosta-se e olha para o barzinho de canto. Job não estava lá. Tinham dispensado os seus serviços na noite anterior. Nove anos de casa.
Lá fora, o camião do lixo recolhia ruidosamente o lixo dos contentores daquela rua sem saída.
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