Já não venho aqui desde o ano passado. E não senti falta para ser honesto.
Como podem constatar, Portugal é um enorme complexo hospitalar. Os prédios onde vivemos são blocos, as casas são salas de espera. Ninguém convida ninguém. As nossas sombras querem sair à rua e não podem. A minha faceta adolescente aguarda por uma Godzilla que irá emergir a qualquer momento do oceano e arrasar tudo de vez. Ou então o súbito aparecimento nos céus de um esquadrão de ovnis de Arcturo ou das Plêiades. Ou menos as notícias mudavam. Mas não. Hospitais. A.V.. Ambulâncias. UCIs sobrelotadas, Boavista em último. Só tragédias.
Kafka, Tzara, Joyce, Cendrars, não tenho paciência, tudo para canto. É o mais triste filme de Fellini. As ruas são um baile de máscaras azuis, um cortejo solitário. Mas o que é isto? Um mega-teste à Humanidade? Um gigantesco exercício estóico? A Grande Depressão parte II? Durante semanas alimento-me apenas de iogurtes magros, arroz no forno e rodelas de banana com manteiga dos Açores. E álcool, claro; garrafas, pipas e mais pipas de vinho, "ambi pur" com fragrância do tal vinho da Lixa por toda a casa.