terça-feira, setembro 25, 2018

"Ah"

Informo-vos que gostaria de estar - neste momento e no momento a seguir - na Bahia Drake, Costa Rica, a beber água de coco enquanto folheava languidamente um livro sobre cultura pré-colombiana.
À falta de melhor, comprei um Jeff Abbott usado, "Colisão", e apostei no território nacional. Dois euros e meio (o livro apenas, viagem e estadia não incluídas).
O livro tinha vários sublinhados e algumas notas na margem a classificar de "giro" e alguns "ah" em certas passagens.
O leitor/antigo dono deste livro deixou de fazer isto ao fim da terceira ou quarta página, talvez porque já não achasse "giro" ou talvez porque tornou-se absurdo sublinhar todas as passagens e avaliá-las com um "ah".
Acho que me enquadro nesse tipo de leitor, o leitor "ah".

segunda-feira, setembro 24, 2018



terça-feira, setembro 11, 2018

Pequeno "cair da ficha"

Realizei-me agora da bipolaridade dos meus últimos textos. Descansem, estou em crer que sou apenas um simples e inofensivo neurótico à procura de algo. Tenho a dizer a meu favor que sou incrivelmente bem-parecido e que funciono bem a quase todos os níveis.
Não, não me considero narcisista (se bem que um narcisista poderia dizer isto), sou antes um grande empata. Empato-me a mim mesmo na maioria das vezes e tenho isso bem presente. Acho que faz parte do meu charme.

Revista Maria

Revista Maria,

Às vezes vou à biblioteca da minha cidade e sou crivado com olhares por parte de uma funcionária quarentona que é muito voluptuosa, muito atraente. Eu devolvo-lhe o olhar mas como sou muito tímido, disfarço folheando um livro qualquer do José Maria Tallon ou "A Bíblia da Menopausa".
Ora isto está cheio de universárias muito bonitas mas que não me interessam minimamente.
Os meus amigos gozam comigo quando lhes contam, não me compreendem.
Serei normal? O que posso fazer para combater a minha timidez? Não sei mais o que fazer.

Obrigado.

sexta-feira, setembro 07, 2018

Dores de parto

Experimentamos plenas dores de parto, estamos todos a renascer, todos os dias. Uns são mais sensíveis, sentem mais do que outros, o que é normal. Mais dor, mais vale de lágrimas, mais sofrimento*.
Vivemos numa espécie de Idade Média da Mente (ofuscados ou seduzidos pela ilusão da Tecnologia) em que tudo é permitido, o logro, a ilusão, a imbecilidade, o ruído, a distracção ("tracção para diversos lados", descentrar, falta de atenção). A Verdade (Deus, se quiserem) está nas pequenas coisas como diria a indiana Arundhati Roy.
No entanto - e trago esta certeza comigo como uma segunda pele - acredito num novo Renascimento.

* Curioso que quando vamos a um médico - por qualquer motivo - ele não pergunta "Como pensa?"; pergunta antes "Como se sente?".

segunda-feira, setembro 03, 2018

Rapidinha

Ora aqui segue uma história que creio que nunca foi contada.

Um homem vem à varanda e apoia-se no seu tapete que está a arejar. Acende um cigarro e olha para um céu cinzento, triste, muito contemplativo. O que estará ele a pensar? Mora no 4ª andar e a sua varanda-cubículo é a única do prédio que não tem marquise.
A vizinha do 3º aparece na terceira passa do vizinho de cima. Começa a estender a roupa, fá-lo com uma ligeireza que irrita um pouco. Deve ter uns cinquenta anos e usa uma blusa com um decote ousado.
O homem desce o olhar a pique e vê as raízes brancas do cabelo pintado da mulher. Estou  convencido que consegue ver mais coisas.
Ela não se dá conta daquela presença superior. Suspira, acabou de estender a última peça de roupa e fecha a janela da marquise com alguma violência.
O homem fuma a última passa e vai para dentro.
O cinzento do céu prolonga-se para tarde fora.