sexta-feira, dezembro 30, 2016

segunda-feira, dezembro 26, 2016

Grávidos de dor

Às vezes - aliás, na maior parte das vezes - é bom andarmos "grávidos de dor" durante alguns meses. Podem ser nove. Podem ser mais. Muitos mais. Não tem nada a ver com masoquismo. Ou talvez tenha para alguns, não sei.

Meses de procrastinação, de ansiedade, de sofrimento, de desconforto, de desespero, de medo.
No fim (no princípio?), nasce um novo ser.
Belo, forte, com vida, energia electromagnética, energia quântica, chi, prana, a pulsar em todo o seu ser e a irradiar para os que mais precisam.*

*Eat your heart out, Lao-Tse. That's right baby.

terça-feira, dezembro 20, 2016

Fósforo

A cabeça de um fósforo tem de ser raspada para dar luz.
E a faixa da caixinha para acender é quase sempre negra.
E, às vezes, o gajo não acende à primeira.
Luz. Ok, a caminho de algo aqui: alto e pára o baile!

segunda-feira, dezembro 12, 2016

O Bernardino



Entrei na padaria do Bernardino que ocupava uma das lojas exteriores do mercado. O Bernardino usa uns velhos óculos bastante graduados que lhe aumentam os olhos. Quando limpa os óculos, os seus olhos parecem dois pontos finais debaixo da testa cheia de travessões. Os olhos do Bernardino têm vida própria, isto é, cada olho olha numa direcção diferente do outro, quando o esquerdo olha para cima, o da direita olha para baixo ou para o lado. É muito confuso quando queremos pedir-lhe alguma coisa. O Bernardino engana-se sempre no troco a seu favor e a minha avó manda vir sempre com ele. Tem o péssimo hábito de caçar moscas com a sua língua de camaleão, mesmo à frente dos clientes, e fica pior que estragado quando alguma mosca lhe escapa ou quando vê uma a dançar e a esfregar as patitas em cima de um molete como que a dizer "és todo meu". Apetecia-me um bolo mas como não tinha dinheiro suficiente, pedi um cantinho de broa. Adoro trincar a côdea da broa de milho e depois amassar o miolo com a língua. Perguntei-lhe pela minha avó, mas ele é meio surdo (ou faz-se), já estava concentrado a caçar uma varejeira com a sua rapidíssima e compridíssima língua roxa. Certa vez, uma mosca velha entrou-lhe para o olho esquerdo e nunca mais de lá saiu e ele diz que vê as coisas e as pessoas como um…calei… um ca-lei-dos-có-pio (desse olho), vive aterrorizado que outra mosca faça o mesmo no outro olho. Tornei a meter-me pela rua de trás quando senti uma espécie de um "cachaço" muito leve, muito meigo, como se me estivessem a fazer festas na nuca. Virei-me e a vinte metros de mim reparei numa menina muito bonita dentro de um furgão velho. Deveria ser filha de um dos vendedores e estava a olhar fixamente para mim. A menina fez-me sinal com o dedo para eu me aproximar e depois apontou com o mesmo dedito para a minha avó que estava no talho do senhor Aguiar. Como é que ela conhecia a minha avó? Não me lembro de ter visto esta miúda antes e vou à Praça com a minha avó quase todos os sábados. Deslizei pelas folhas de couve e de alface esmagadas no chão até chegar ao talho.

sexta-feira, dezembro 02, 2016

Mente

A mente dentro da mente dentro da mente dentro da mente, etc.

Sim, eu sei, 2016 está a ser um ano de profundas revoluções a esse nível.
Ao nível em que cada um está, neste momento.
É como passar da 2ª velocidade para a 5ª velocidade. E sempre que fazemos marcha-atrás sem olhar para o retrovisor ou quando queremos arrancar logo em 5ª com ela, com a mente, o carro vai abaixo ou batemos em algo - é tramado*.

Neste momento. Que é tudo o que importa, tudo o que vale.

A mente dentro da mente dentro da mente dentro da mente, etc. Um belo mantra.


Yep.

*mas que belo eufemismo, tão casto, tão pueril.

quinta-feira, dezembro 01, 2016