quinta-feira, janeiro 28, 2010

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Gatos de Chescire



O meu gato descende da nobre linhagem dos Gatos de Chescire. Confirmei as minhas suspeitas ontem. Mandei colocar um olho mágico na porta de entrada que me permite ver de fora para dentro. Assim que me vê sair, o gato senta-se em cima da poltrona e ri-se desalmadamente. Quando rodo a chave para entrar, volta ao normal e olha-me meio desconfiado. Às vezes, desaparece por quatro, cinco dias, uma semana até.

sábado, janeiro 23, 2010

Oito Mortes das Cinco Prás Oito

O trapezista profissional Augusto Chang morreu
atropelado quando passeava no seu dia de folga.

O alpinista Rocheforte morreu afogado quando
nadava no ribeiro da sua aldeia.

O advogado do Ministério Público Herb Anário
foi esfaqueado dezasseis vezes num clube privado.

O contrabandista Constantino Barrabás morreu de intoxicação
alimentar por causa de um chocolate comprado no Comércio Justo.

O cordoeiro Sócio Argentino tentou enforcar-se com
um dos seus artigos. A corda rebentou e o Sócio deu um tiro na cabeça.

O assassino Armando de Jesus morreu de velhice na prisão.

O sapateiro Félix Courato foi assassinado no seu leito conjugal pela
sua mulher. Morreu descalço.

O carcereiro Josué Guilherme morreu de prisão de ventre.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Grimm


Betrugs Lexikon, Werner Klemke

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Conferência de Ialta


- Use the Force, Staline!

Mestre

mestre,
o homem que se
chama Carmen
disse-me há tempos
que podemos achar
marsupoetas
em pneus recauchutados onde
se plantaram cactos.
Faz-se um buraco no cacto
e bebe-se o primeiro trago

de água que sai de dentro.
Cospe-se o resto
e onde
esse resto cair estará um
marsupoeta com
uma lira made in china.

- Isso são histórias! - respondeu-me o mestre.

quinta-feira, janeiro 07, 2010


domingo, janeiro 03, 2010

O electrocista

Bang! Bang!
Era ele. O amigo do meu amigo já me tinha alertado que ele fazia-se anunciar com dois tiros. A casa não tinha luz, não podia tocar à campainha e, em vez de nós, o homem tinha laços muito delicados nos dedos, logo não bateu à porta com medo de os estragar. Exigia sempre um tapete vermelho com pequenos raios bordados que o deveria levar sem demoras ao quadro eléctrico. Como o meu quadro fica no hall de entrada, tive de me remediar com um capacho chinês, espero que a criatura não se importe.
Abri a porta.
- Saia por favor - ordenou.
- Com certeza.
Sua Volticidade não gosta que os clientes estejam por perto quando está a trabalhar. Tem a fama e o proveito de ser o melhor técnico sindicalizado do distrito e nunca deixa os seus débitos em mãos alheias.
- Deve ser apenas um fusível fundido, se quiser... - disse-lhe já cá fora.
Grande slam na minha cara.
O amigo do meu amigo que também é membro da poderosa Guilda dos Electrocistas avisou-me do modus operandi do sujeito. Assim, ontem à noite, coloquei a minha poltrona no jardim da frente para me sentir mais confortável. Enquanto esperava, pus-me a adivinhar as músicas que os transeuntes trauteavam de cabeça. De seis, só acertei em duas, o que não é nada mau, mas também não é nada bom. Sig Sig Sputnik e Tom Jones. Achamos que é algo que só acontece aos outros, mas, quando menos se espera, acontece também à gente. Quando dei por mim, estava agarrado a um jingle idiota que tenho vergonha de reproduzir aqui. A minha vizinha da frente parece que adivinhou, pois começou também a trauteá-lo de cabeça. Acenou-me com um ancinho na mão e disse-me algo em rodapé sobre leite derramado.
- Já está, chefe. Venha cá ver isto - disse o electrocista atrás de mim.
O fio fogo do fogão tinha entrado em curto-circuito com o fio água, e o fio ar estava bastante calcinado como era de prever. O fio terra foi o único que se aproveitou.