sexta-feira, setembro 28, 2007

Lubok



- Por favor afaste-se de mim, nada tenho a tratar consigo. Acercou-se de mim, agarrou no meu traseiro, assim não posso cozer o meu blini*. Sou contra os jogos de apalpa-o-cu, ainda vou arder por causa dos blinis. Espere, já sei: vou partir a minha pá na sua cabeça. Poderei até sentir vergonha ou pesar, mas juro-vos que irá se arrepender. Vossa senhoria não descansa, deixe-me em paz ou estrago-lhe a jaqueta.
- Está à vontade, bate-me se é esse o teu desejo, mas deixa-me apalpar o teu cu...Parece-me tão apetecível, o teu firme e redondo traseireinho. Esperei que todos partissem, enfim sós. Podes bater-me com o bastão, não te vou impedir, não importa. Tem dó de mim, ama-me , vem para a cama comigo.

*blini: pequena panqueca russa à base de levedura e trigo-sarraceno.

Trad.: a minha, composta a partir da versão inglesa.


"Por favor, Afaste-se de Mim" é um lubok de uma cena cómica e garbosa. Ilustra o diálogo "cortês" entre duas personagens em pleno galanteio, temperado por algumas expressões grosseiras.

quarta-feira, setembro 26, 2007

Iluminismo electrónico



Leatherette: imitation leather, especially one that is made with paper and cloth, or from plastic. Leatherette bound books and cameras are good examples of leatherette. Leatherette clothing, including pants and lingeries also exist.

O Jardim


Adolf Wölfli


Cheirava a febre
não havia jardim
alguns estranhos casais caminhavam
traziam os sapatos calçados nas mãos
os pés descalços eram brancos, enormes
cabeças como luas selvagens, epilépticas
e rosas vermelhas que de súbito
brotavam
meses a fio
eram cuidadas e esmagadas
por cães-borboleta

Miltos Sachtouris
Trad.: a minha

segunda-feira, setembro 24, 2007

Autoharp



Pequenas demonstrações promocionais aqui e acolá.

sábado, setembro 15, 2007

Alentejo

vem para dentro
foge do sol forcado
dos compadres secos
bestas da canícula
peles de chaparro
e rabos-de-porco
dos olhos que disparam
rápido
montarias de línguas
torcidas de javali
homens de verde
galhardos
bebem

cospem bocados
de ensopado
cães cães
e mais cães

faz como eu
sacude as moscas
com a cauda
não te esqueças

tentaste plantar
bromélias e roseirais
para marcar a tua presença
o calor abafou-as
nesta paisagem do nada

a noite
é escrita
aos poucos
adormeces de mãos
abertas azuis
ao som hipnótico
das cigarras
que o luar esfaqueia

ao longe
um portão chia
e deixa entrar um
pedaço de paz
nesta despida noite
de setembro

sexta-feira, setembro 07, 2007

Dependência

a abelha-rainha
sempre embriagante
sempre ubíqua
realizou o voo nupcial
dentro de mim

(sempre sempre)

o mel acumulou-se
nos alvéolos da cama,
na minha barriga

ah! devorou-me uma
asa
ainda assim

não deixei de
voar entre
as flores.

quinta-feira, setembro 06, 2007


Georgia O'Keefe

A aridez implacável do deserto obriga as pessoas a cometerem actos desesperados. Não é o caso deste projecto, au contraire. Também aqui o acto de criação é uma questão de sobrevivência, dentro ou fora do deserto.
E, se pensarem outra vez, este dueto romântico não é assim tão improvável quanto possa parecer à primeira vista.

quarta-feira, setembro 05, 2007

- Nenhum destes sintomas são realmente novos, seu doutora, mas não sinto dor. Eu sei que não tinha hora marcada, seu doutora. Desculpe, seu doutora. É quase como um formigueiro que se sente quando se apoia todo o peso do corpo num determinado membro durante muito tempo, sabe? Essa parte do corpo é a minha cabeça. Passa-me então o P1 para a "raspagem" da cabeça, seu doutora? Quero ver se durmo esta noite, seu doutora. Muito obrigado, seu doutora. Não, não volta a acontecer, eu falo com a menina do atendimento. Com licença, seu doutora.

terça-feira, setembro 04, 2007


Milton Avery

Se souberes recortar cuidadosamente as parcelas douradas do Tempo, não envelheces nem esmoreces tão rapidamente. Terás de fazer esta operação delicada antes de te deitares. O Sono devora o Tempo e baralha as moléculas do consciente e do inconsciente. O teu Sono é como um mar convulso, encrespado, mas não tormentoso, que carrega finos vícios, pequenas ânsias de baixios, velhos sudários e uma espécie de Grande Obra que nunca virá à tona.